Última atualização: 05 de maio de 2016
O sentimento de nostalgia é tão comum que às vezes temos a ideia inconsciente de que deve estar ali mesmo, como algo intrínseco ao nosso ser. Justamente por isso, todos podem se identificar com ele: vivemos carregando a nostalgia de algo nos ombros, caminhamos juntos, dançamos com isso e o acariciamos principalmente quando chove. Como se em dias tristes, quando há menos visibilidade, você se deixa ver mais.
“Nostalgia é amar um passado que nos faz sofrer no presente. É uma felicidade atrasada. É dormir em uma rede enquanto continua a lembrar das reconciliações ardentes após discussões por motivos fúteis. Percebendo a falta de detalhes. A nostalgia por si só não mata porque traz consigo o prazer da tortura.”
-Gabito Nunes-
Sentimos saudades de alguém, de algo, de um passado que não é presente, mas gostaríamos que fosse. Também podemos senti-lo por um presente que não é e nunca foi. Somos nostálgicos por momentos, por detalhes, carícias, palavras... Em última análise, é tão real quanto podemos ser, e é por isso que nos toca tão profundamente.
As vezes a nostalgia é tão grande que a gente é nostalgia
Em um artigo, o autor afirmou que nosso passado é como um país do qual fomos exilados; por isso, como quem foi exilado e sente frio, queremos voltar para buscar o calor. Nesse sentido, o exílio figurativo pode ser muito distante, distante ou quase simultâneo ao nosso presente.
Tudo isso parece ser verdade: enquanto a nostalgia nos leva à melancolia prolongada, querer voltar é mais uma forma de nos conhecermos a partir do que fomos. Isso não significa que não queremos viver o presente ou que o estamos vivendo mal, mas sim que nos reconhecemos e temos consciência do que vivemos.
“Às vezes a nostalgia é tão grande que é mais do que um sentimento. As pessoas estão com saudades de casa. É uma forma de viver encontrar o olhar de uma pessoa mesmo nos cantos mais improváveis, numa confusão de cabelos, bocas, perfumes. Um sorriso nos lábios com o coração sufocado."
-Gabito Nunes-
As pessoas são nostálgicas, como diz o escritor português, porque faltar uma coisinha torna-a grande. Porque esse pequeno algo é ausência, e sentimos a necessidade dele com todo o nosso ser. É por isso que somos nostálgicos: porque, como no amor, não podemos percebê-lo com uma intensidade média, ele nos acompanha em todos os nossos gestos.
As duas faces da saudade
Certamente a nostalgia, como a maioria das coisas nesta vida, tem dois lados. Quando ouvimos essa palavra, entendemos que estamos chegando perto de algo triste e doce ao mesmo tempo.
Por exemplo, sentir falta da família, dos amigos ou do parceiro é como se sentir momentaneamente desprotegido; no entanto, também representa um abraço quando essa falta equivale a saber com quem nos importamos, quem realmente queremos conosco.
“Sentir-se nostálgico significa mudar radicalmente sua rotina, comendo mais salada e menos sorvete. A nostalgia é o incômodo à espera de um reencontro. É imaginar onde eu tenho que estar agora. E quando a saudade não está mais em nosso peito, ela se materializa e transborda dos olhos.”
-Gabito Nunes-
É verdade que costumamos ficar com o rosto melancólico devido à nostalgia, principalmente em épocas como outono e inverno, com as quais mais se identifica. No entanto, pessoas corajosas entendem que nostalgia é a ausência de algo que valeu ou ainda vale a pena, que foi ou é linda, que nos fez ou nos faz felizes.
Corajosa porque, se é uma ausência permanente, fica difícil entender a necessidade de entendê-la como o preço das coisas mais belas. Porque nada nos faria sentir nostálgicos se não trouxesse a certeza de uma felicidade realizada, provável ou existente.
Pelo contrário, e em primeiro lugar, devemos manter o aspecto positivo da nostalgia, aquele que nos preenche, que nos faz participar do mundo e nos mostra que estamos vivendo de verdade, apesar das consequências.
