Doadores e receptores nas relações afetivas

Doadores e receptores nas relações afetivas

Doadores e receptores nas relações afetivas

Escrito e verificado pelo psicólogo GetPersonalGrowth.

Última atualização: 15 de novembro de 2022

Nas relações emocionais raramente há um equilíbrio perfeito entre dar e receber. É comum ver os doadores e receptores clássicos imersos em um jogo de poder onde apenas um leva. O destinatário obtém energia, vitalidade e todo o investimento afetivo de um doador convencido de que no amor não há limites, que tudo se permite nos afetos.



Embora o termo possa nos parecer estranho, em questões relacionais e emocionais é comum testemunhar autênticos suicídios emocionais. É curioso ver como uma pessoa consegue dirigir com prudência na rua, prestar atenção à dieta ou se preocupar em praticar esportes e levar uma vida ativa, mas na esfera emocional não pensa duas vezes em se jogar no vazio e sem pára-quedas.

Na questão dos casais, nem tudo é válido, deve ser lembrado. Fazer do seu parceiro sua razão de existir e ser tem sérias consequências. Doadores e receptores são abundantes em qualquer vínculo de relacionamento. São aquelas pessoas que não conseguem alcançar o equilíbrio certo entre dar e receber e que caem nos extremos mais insalubres, nos quais a felicidade autêntica raramente é experimentada.

O princípio da reciprocidade como chave para o bem-estar

Friedrich Nietzsche disse que oferecer um presente não confere nenhum direito ou obrigação ao destinatário. Podemos concordar com esta afirmação, no entanto, gostemos ou não, existem pequenas "nuances". Presentes são trocas que envolvem certa reciprocidade, unindo doadores e receptores de várias maneiras.

Por exemplo, posso dar um presente material a um amigo. Eu não espero (ou quero) que você retribua. Ofereço esse presente apenas porque quero homenagear o carinho, o apoio e a positividade que essa pessoa me transmite; ou seja, já existe reciprocidade entre nós, já estamos unidos por um vínculo que é representado por um equilíbrio dinâmico e energético onde ambos recebemos algo.



Goste você ou não, precisamos dessa restrição de feedback e feedback constantes, onde dar e receber se tornam um, onde somos todos doadores e receptores ao mesmo tempo. Isto é assim por uma razão muito simples: o ser humano é cooperativo por natureza. De fato, colaborar nos permitiu progredir como espécie ao nos sentirmos amados, cuidados, valorizados e até protegidos. Além disso, esses comportamentos dão ao nosso cérebro uma clara sensação de pertencimento e bem-estar.

O que acontece se não houver reciprocidade e somente eu for o "doador"?

O artigo de 2010 Quando ajudar ajuda: motivação autônoma para o comportamento pró-social e sua influência no bem-estar do ajudante e do destinatário publicado no Journal of Personality and Social Psychology destaca alguns dados bastante curiosos.

  • Algumas pessoas são "doadoras" por natureza. Em outras palavras, o ato de dar faz parte de sua personalidade e é assim que eles entendem a dinâmica de seus relacionamentos. Dar (atenção, carinho, cuidado, importância, etc.) faz com que ele adquira maior auto-estima e um sentimento de positividade, energia e dignidade pessoal.
  • Nesse caso, dois cenários podem ocorrer. A primeira é que outras pessoas (os destinatários) se sentem pressionadas e até envergonhadas por esse comportamento de cuidado, favor, sacrifício ao longo da vida. A segunda é óbvia: mais cedo ou mais tarde aparecerá o fenômeno conhecido como "custo perdido". Em outras palavras, o doador pode descobrir que muitas de suas ações não são valorizadas ou reconhecidas. Ele não vai mais recuperar tudo o que investiu, tempo, afeto e energia. Ele vai achar que não fez sentido e vai ser um grande golpe na sua autoestima...


Doadores e receptores: duas figuras constantes em nossas relações

Anna e Paolo estão juntos há 8 meses. Ana é a "Doador" e faz qualquer coisa por seu parceiro. Ela presta atenção constante a ele e sempre se preocupa com ele, adora estar sempre um passo à frente e prever o que pode precisar ou gostar em determinado momento. Paulo, por sua vez, "se deixa servir". Como seu parceiro parece feliz com esses comportamentos, ela começou a mostrar uma atitude mais ou menos passiva e até dependente.



É um pequeno exemplo do que pode acontecer com muita frequência em nossos relacionamentos e como, pouco a pouco, doadores e receptores vão tomando forma. Às vezes, nós mesmos colocamos em prática uma série de dinâmicas que acabam se cristalizando em situações negativas. Portanto, não se trata de procurar os culpados, mas de entender algumas coisas:

  • Podemos permitir que um dos dois "invista" um pouco mais no relacionamento a qualquer momento. No entanto, isso não precisa ser um modelo nem a regra. Além disso, uma responsabilidade clara de ambos os membros do casal é comprometer-se igualmente na relação, onde custos e benefícios devem ser semelhantes e justos para ambos.
  • Nós merecemos receber. Às vezes, você passa tanto tempo como “doador” que não sabe o que significa receber de vez em quando. O inverso também acontece. Aqueles que passaram a vida inteira recebendo atenção e consideração podem experimentar um belo sentimento de gratidão se entenderem o significado do ato de dar e dar do fundo do coração.

Para finalizar, um aspecto interessante para se pensar sobre doadores e receptores é que nem precisamos ficar obcecados com o clássico 50/50, ou seja, buscar aquele equilíbrio perfeito e milimétrico de investimentos e lucros em um relacionamento de casal. As pessoas têm maneiras diferentes de doar e também o fazem em momentos diferentes.


O importante é que haja reciprocidade, que o parceiro esteja ao nosso lado e que o que oferecemos de coração seja recebido de braços abertos e retribuído com a mesma alegria quando precisamos.

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