A ausência de amor muitas vezes envolve sofrimento. Mas em outras ocasiões é apenas uma forma extrema de viver o amor que nos faz sofrer. Limerência é aquela experiência que acaba transformando um relacionamento em um verdadeiro inferno
Última atualização: 02 de abril de 2022
Quando surgem certas circunstâncias, o amor deixa de ser sublime. A verdade é que muitas vezes damos o nome de "amor" ao que não é; confundimos a experiência de amar com a de ser amado. A partir disso, às vezes surge uma verdadeira obsessão com o parceiro, limerência.
Este termo foi cunhado pela psicóloga Dorothy Tennov em 1979 para indicar aquele estado em que amar se torna uma experiência tremenda.
A médica chegou às suas conclusões depois de realizar uma extensa pesquisa sobre o amor romântico, para a qual consultou as opiniões de mais de 500 pessoas.
A limerência é entendida como aquele estado de espírito em que amar é o inferno. Em outras palavras, aquela condição em que uma pessoa se sente "apaixonada" por outra e desenvolve um desejo obsessivo e predominante de ser correspondido.
Este estado está relacionado ao transtorno obsessivo-compulsivo. É por isso que envolve grande sofrimento para o indivíduo.
Idéias fixas têm a tenacidade corrosiva de doenças incuráveis. Uma vez que entram em uma alma, eles a devoram, não deixam mais a liberdade de pensar em nada, de desfrutar de outra coisa.
-Guy de Maupassant-
Quando o amor é o inferno
Todos nós sabemos se apaixonar é um estado caracterizado por uma forte intensidade de sentimentos. Não só você sente as "borboletas no estômago", mas também o senso crítico falha e a razão fica em segundo plano.
O sentimento de "amor" é penetrante, poderoso e muito gratificante. É experimentado como um doce sofrimento. Geralmente, após esta fase de enorme excitação de emoções, chegam outras fases em que, pouco a pouco, se recupera o equilíbrio e o cuidado dos próprios interesses.
A intensidade do sentimento diminui, elementos racionais são introduzidos e a "cegueira" se dissipa. Nesse ponto, quando o relacionamento está saudável, passamos para uma fase mais profunda, mais real, caracterizada pela ternura.
No caso de limerência eles são experientes os mesmos sintomas de se apaixonar por apenas um membro do casal. Não há, portanto, correspondência. Isso leva a uma terceira característica da limerência.
Quando a pessoa percebe que não há correspondência, ela decide não aceitar a situação. Assim, ele investe todos os seus esforços para fazer o outro sentir o mesmo. E ele está relutante em admitir que isso pode não acontecer. Aqui o amor se torna um inferno.
Limerência, quando o amor dói
De uma sensação agradável e exultante, o amor se torna uma tortura quando ocorre a limerência. Essa obsessão não te deixa viver em paz nem por um minuto. As ilusões vagas e contínuas são seguidas de graves decepções.
Repetidamente o ciclo é reiniciado. A pessoa se sente presa no sentimento de amor e não consegue encontrar uma maneira de deixar de se sentir assim.
O o amor é vivenciado como uma experiência negativa, causando sofrimento extremo. Diante disso, a pessoa busca uma forma de garantir o amor do parceiro, por isso comete erros e é assaltada por dúvidas e inseguranças. Os pensamentos obsessivos causam ansiedade e preocupação.
É impossível parar de pensar no "amado". Às vezes você tenta, mas os pensamentos intrusivos voltam para encher sua mente.
O parceiro é idealizado e procura estar sempre junto e fazer o que o outro gosta. Tal estado também causa manifestações físicas.
A pessoa pode apresentar sintomas como tremores, palpitações, sudorese, nervosismo, dificuldade para dormir, etc. Tudo o que caracteriza uma obsessão.
Saia do inferno da limerência
Na base estão os traços de uma personalidade obsessivo-compulsiva, transtorno grave com várias consequências. No caso da limerência, "ser amado" é apenas um pretexto para mostrar uma série de sintomas relacionados a problemas mais profundos.
Uma pessoa obsessiva pode ficar obcecada por um esporte, religião, ideia ou qualquer outro objeto ou realidade. No caso da limerência, a ênfase está na outra pessoa e no sentimento de unidade.
Essa abordagem obsessiva leva a atos compulsivos (automáticos e irracionais) e a definir o amor como um estado infernal.
Na realidade, não há amor nesses casos. Por outro lado, há uma alteração de consciência que pode ter a ver com experiências traumáticas não processadas. Estes vêm do passado e não foram reconhecidos.
O suposto amor ardente pelo outro pode não passar de uma cortina de fumaça para manter escondida a dívida consigo mesmo. Nesse caso, consultar um especialista é a única solução.