Ter compaixão por si mesmo não nos torna mais fracos; pelo contrário, mais forte. Porque se aprendermos a nos tratar com bondade, se nos perdoarmos quando precisarmos, e aprendermos a nos falar com carinho, conseguiremos lidar melhor com as dificuldades e complexidades da vida.
Escrito e verificado pelo psicólogo GetPersonalGrowth.
Última atualização: 15 de novembro de 2021
Ter compaixão por si mesmo é tudo menos um ato de egoísmo. Todos nós precisamos praticar esse ato de autocuidado que nos permite, por exemplo, perdoar erros passados e presentes, nos encorajar em momentos difíceis ou nos tratar com o respeito que merecemos. Como ninguém já nasce com essa habilidade, é importante aprender a cultivá-la.
No Decameron, Boccaccio disse que sentir compaixão pelo próximo nos torna humanos. De alguma forma, tanto cultural quanto socialmente, eles nos incutiram a ideia de que essa dimensão sempre se projeta de dentro para fora. É verdade que devemos ter pena de quem sofre e que ter esse sentimento nos torna mais nobres. No entanto, há um detalhe igualmente importante.
A compaixão também deve ser projetada para si mesmo. Isso é saudável, catártico e até necessário. Algumas pessoas chamam isso de uma espécie de "narcisismo saudável", mas de qualquer forma essa área psicológica vai muito além do amor próprio, pois lhe dá apoio, encorajamento e significado.
Ter compaixão por si mesmo, a chave para o bem-estar psicológico
Uma coisa é amar a si mesmo e outra é fazer certo. Nem todos os tipos de orgulho são saudáveis, pois o ego superdimensionado causa um narcisismo prejudicial para o qual não há mais ninguém além de si mesmo. Da mesma forma, as pessoas que não se tratam com o devido respeito e carinho são geralmente as mais valorizadas.
No entanto, viver sua vida com baixa auto-estima dá lugar às sombras da depressão e outros problemas psicológicos. Por outro lado, homens e mulheres incapazes de controlar seu próprio diálogo interno negativo, acusatório e prejudicial, sempre navegam à deriva do sofrimento mental. Eles perdem oportunidades, desenvolvem relacionamentos infelizes e raramente alcançam a realização pessoal.
Ter compaixão por si mesmo não é um ato de fraqueza. Às vezes nos opomos a esse sentimento porque associamos compaixão com piedade, esse sentimento muitas vezes vazio e passivo entre tristeza e ternura por algo ou alguém.
Distorcemos tanto esse aspecto que nos sentimos desconfortáveis em experimentá-lo em nós mesmos. É, pois, necessário reformulá-lo e dar-lhe a importância que merece.
Por que é necessário desenvolver maior compaixão por nós mesmos?
Kristin Neff definiu o termo "autocompaixão" e descreveu sua utilidade para o bem-estar psicológico. Em sua pesquisa, ele a equipara à prática da atenção plena, cujos benefícios para a saúde mental são amplamente apoiados pela ciência.
Ter compaixão de si mesmo significa, acima de tudo, aceitar a imperfeição do ser humano, aceitar que somos falíveis, que erramos e sabemos responder com gentileza e carinho. A necessidade de desenvolver esta habilidade necessária ao bem-estar aplica-se em várias áreas:
- A Duke University (Estados Unidos) mostrou um fato interessante em um estudo: as pessoas que aplicam a autocompaixão no dia a dia desfrutam de boa inteligência emocional e ficam mais satisfeitas.
- Por outro lado, a autocompaixão também mostrou estar associada a uma menor incidência de depressão e ansiedade. Este último é um fato importante que vale a pena contemplar.
- Quem sabe ser respeitoso e afetuoso consigo mesmo nos momentos difíceis molda um diálogo interior que não julga, que não critica e que permite que você se aceite como é.
- Da mesma forma, é interessante notar que pessoas que praticam a autocompaixão não caem nos labirintos da preocupação excessiva, em reflexões negativas que prejudicam o bem-estar psicológico. (Krieger, Altenstein, Baettig, Doerig e Holtforth, 2013)
Componentes da autocompaixão
A literatura e a pesquisa sobre autocompaixão aumentaram exponencialmente nos últimos anos. Já sabemos que permitir que os pacientes com depressão pratiquem a autocompaixão os levaria mais facilmente à melhora e à cura progressiva.
Um estudo realizado pela Universidade de Zurique sugere incluir este exercício na terapia cognitivo-comportamental. Ao mesmo tempo, é interessante ter em mente os elementos que dão forma e corpo ao exercício da autocompaixão:
- Fale um com o outro gentilmente.
- Julgue-se positivamente.
- Aceite que você não é perfeito nem invulnerável.
- Conheça a si mesmo e suas necessidades.
- Entender que sofrimento, erro ou perda fazem parte da vida.
- Ter compaixão por si mesmo significa saber apreciar e amar a si mesmo.
- A atenção plena, ou mindfulness, por sua vez, permite que você desenvolva esse aspecto de forma mais eficaz.
Ter compaixão por si mesmo permite que você não dependa dos outros
Ter compaixão por si mesmo não significa autopiedade ou sentir-se fraco ou frágil. Significa apreciar-se de forma autêntica porque tem consciência do seu próprio valor. Por sua vez, significa ser tolerante com seus erros e abraçar suas feridas internas para se encorajar a seguir em frente.
É importante considerar outro detalhe igualmente interessante: a autocompaixão torna você mais autossuficiente na valorização das emoções, necessidades e autoestima. Quando sabemos o que merecemos, deixamos de ser absolutamente dependentes da atenção dos outros e, mesmo que os apreciemos, já não dependemos tanto do nosso entorno.
Em conclusão, permitir-nos ser imperfeitos e amar a nós mesmos em todas as situações e circunstâncias é um exercício de saúde que vale a pena praticar. Hoje é o dia perfeito para começar esta jornada.