Ser coerente consigo mesmo, alinhar o que pensa e o que faz é uma forma de garantir o seu bem-estar psicológico. Cuidar de seus valores e tê-los guiando cada comportamento e cada palavra se torna extremamente importante.
Escrito e verificado pelo psicólogo GetPersonalGrowth.
Última atualização: 15 de novembro de 2021
O princípio da consistência afeta todos os nossos esforços como seres humanos para permanecermos, quase sempre, consistentes com nós mesmos. Manter a harmonia entre o que dizemos e fazemos é uma de nossas maiores necessidades; entre o que a experiência nos ensinou e o que a contingência exige. Bem, também é verdade que nem sempre é fácil ter sucesso e que esse conflito muitas vezes acaba gerando desconforto.
Carl Rogers, um famoso psicólogo humanista, foi um dos primeiros a investigar o princípio da coerência ou congruência. Em 1950, ele a definiu como uma aliança entre experiência e consciência. Basicamente, seria o resultado de tudo que vivemos e o que aprendemos com isso poder agir de acordo com nossa escala de valores, sentimentos e desejos.
Rogers amadureceu a necessidade de aprofundar esse conceito por um motivo específico. A incoerência é um fator que frequentemente emerge na terapia; referimo-nos à clara distância entre as necessidades de uma pessoa e o que ela realmente faz por si mesma.
Há muitas pessoas que pedem ajuda porque se sentem se afastaram completamente de seu "ego ideal". Suas vidas perderam o sentido ao verem a nítida discrepância entre o que querem e o que fazem, entre o que sentem e o que recebem.
Quando o princípio da coerência é quebrado, surgem desconforto e sofrimento. É uma realidade tristemente comum que vale a pena insistir.
“A boa vida é um processo, não um estado de ser. É uma direção, não um destino”.
-Carl Rogers-
O princípio da consistência às vezes pode ser um problema
O princípio da coerência foi estudado, entre outros, pelo escritor e psicólogo da Universidade do Arizona Robert B. Cialdini. Um de seus livros mais conhecidos é, sem dúvida, Pré-Suasão. Criando as condições para o sucesso dos persuasores. Neste trabalho, ele explora essa teoria, dando-nos um ponto de vista interessante e novo.
A nuance que Cialdini apresenta é a seguinte: às vezes, na tentativa de nos preocuparmos com nossa consistência, nos encontramos em situações contraditórias que acabam sendo problemáticas. Um exemplo poderia ser o de se definirem como ambientalistas e fortemente comprometidos com a proteção do meio ambiente e, no entanto, continuarem a utilizar fontes de energia poluentes.
Há situações em que uma espécie de condenação social pode ser experimentada porque certos aspectos são defendidos mesmo que não sejam totalmente consistentes com eles. Isso é ainda mais complicado se você quer inspirar os outros, se você tem o desejo de alcançar mais pessoas através de seus valores e comportamentos. Mas o que pode ser feito nesses casos? Será que somos mais inconsistentes do que pensamos?
O princípio da coerência e as pequenas dissonâncias
Há casos em que é impossível cumprir o princípio de 100% de consistência. Podemos não gostar de discussões e conflitos, mas temos que lidar com eles com frequência. Ou temos certas ideias políticas e um parceiro que apoia exatamente as opostas. Ou ainda, amamos crianças, mas escolhemos não tê-las. Apesar dessas aparentes inconsistências, alguns fatores devem ser levados em consideração:
- Pode-se permanecer consistente apesar das aparentes inconsistências diárias. Afinal, como o próprio Carl Rogers apontou, o princípio da coerência usa a consciência do indivíduo.
- Se nenhuma dissonância for percebida, se há harmonia entre o que se ouve e o que se faz, o problema não existe. Afinal, o ambiente em que vivemos é incrivelmente complexo e somos obrigados a lidar com mais estímulos, pessoas, circunstâncias e o inesperado do que poderíamos.
- O aspecto fundamental é que há sempre um equilíbrio interior. Sempre haverá situações que minarão nossos princípios, aquelas em que reagiremos com a convicção certa para defender nossa consistência.
Outras vezes, seremos obrigados a fazer pequenas concessões para obter benefícios, mantendo, apesar de tudo, a homeostase interior (como ter um parceiro com ideais diferentes dos seus, mas com quem convivemos feliz e satisfatoriamente).
Somos consistentes, apesar das pressões. É uma questão de valor
Estamos bem cientes de que às vezes nossos pensamentos e comportamentos não estão alinhados. Essa desarmonia pode se manifestar de tempos em tempos sem consequências particularmente importantes.
No entanto, o caso mais prejudicial é quando o princípio da consistência é continuamente violado. Carl Rogers, por sua vez, vincula-o à teoria do eu, uma de suas contribuições mais importantes.
- Quando violamos continuamente o princípio da consistência, uma distância clara é criada entre o eu ideal e o eu percebido. Ou seja, há um abismo entre o que fazemos e percebemos sobre nós mesmos e o que gostaríamos de ser; e este abismo nos faz sofrer.
- De forma similar, essa falta de harmonia gera várias estratégias mentais com as quais se tenta (sem sucesso) encontrar um equilíbrio. Construímos, por exemplo, dissonâncias cognitivas. São aqueles conflitos internos que surgem quando apoiamos ideias opostas, e que mais cedo ou mais tarde nos levarão a justificar algo que vai contra nossos valores, na vã tentativa de reduzir o sofrimento psicológico.
- Também usamos mecanismos de defesa complexos para aliviar essas contradições, estratégias completamente inúteis, pois isso resulta em um aumento do nível de frustração e ansiedade.
Em resumo, para garantir o bem-estar psicológico de uma pessoa, é essencial cuidar do próprio princípio de consistência. Fazer isso é extremamente importante.
Este exercício saudável de ser e agir de acordo com os próprios valores, em todos os momentos, pode ser complicado às vezes, mas tal esforço servirá para nos garantir uma forte auto-estima. Vamos tentar.