Racionalidade e inteligência não são a mesma coisa

Racionalidade e inteligência não são a mesma coisa

Às vezes, confundimos e usamos os termos racionalidade e inteligência indiscriminadamente. Achamos que uma pessoa inteligente também é racional e toda pessoa racional é inteligente. Não é assim. Na verdade, tomar decisões racionais nem sempre é melhor, mesmo que seja difícil para nós reconhecê-lo, uma vez que vivemos em uma época em que a racionalidade foi colocada em um pedestal com todas as honras.

Consideramos as emoções como o "inimigo" que obscurece nosso raciocínio e nos leva a tomar decisões erradas. Achamos que o simples fato de a razão prevalecer nos garante uma boa decisão. No entanto, podemos tomar decisões lógicas e racionais que, no longo prazo, não são as melhores para nós. Se não ouvirmos nossas emoções, as decisões racionais podem nos deixar muito infelizes. Ser inteligente consiste precisamente em decidir com o coração e a razão.



Essa dicotomia entre emoções e intelecto começou com Descartes, que afirmou que só por meio da razão podem ser descobertas certas verdades universais. Sua oposição à experiência como fonte de conhecimento deu origem ao racionalismo que ainda hoje impera, a ponto de idealizarmos o racional e criticarmos o emocional.

Pessoas mais inteligentes podem tomar decisões mais irracionais

No início dos anos 70, psicólogos das universidades de Stanford e British Columbia conduziram uma série de experimentos nos quais mostraram que todos, mesmo pessoas muito inteligentes, têm propensão para a irracionalidade e para tomar decisões com base na intuição, e não na intuição.

Em um desses experimentos, eles pediram aos participantes que lessem uma passagem que descrevia a personalidade de uma mulher que foi descrita como sincera, brilhante, formada em filosofia e preocupada com questões como discriminação e justiça social. Em seguida, eles perguntaram qual das duas afirmações referentes a essa pessoa era mais provável: A) Linda é uma caixa ou B) Linda é uma caixa ativa e feminista.



85% das pessoas escolheram a opção B, embora logicamente A seja a opção mais provável. Os participantes foram vítimas da falácia da conjunção, uma crença de que pensamos que dois eventos têm mais probabilidade de coincidir do que apenas um. Mas esse não é o único erro em que cometemos ao tomar decisões. Na verdade, tendemos a ignorar as informações mesmo quando não correspondem às nossas expectativas e crenças, embora sejam relevantes para a resolução de problemas, é o que se conhece como viés de confirmação.

Posteriormente, pesquisadores da Universidade de Toronto também ajudaram a esclarecer a relação entre inteligência e racionalidade. Naquela ocasião, eles se concentraram nas pessoas que tomavam as decisões mais racionais, imaginando qual seria o seu segredo.

Esses psicólogos descobriram que, normalmente, as pessoas mais inteligentes nem sempre eram as mais racionais. Em outras palavras, uma pessoa com alto QI tem tanta probabilidade de tomar decisões irracionais quanto alguém com baixo QI. Na verdade, pessoas mais inteligentes tinham ainda mais probabilidade de tomar decisões irracionais.

Esses psicólogos batizaram esse fenômeno de "desracionalidade" e chegaram até a criar um "coeficiente racional" para diferenciá-lo do tradicional "QI".

Às vezes é bom ser racional, outras vezes é melhor ser inteligente

Tudo parece indicar que a chave está no pensamento reflexivo, em nossa capacidade de nos afastarmos de preconceitos e erros, analisando o caminho de nosso pensamento de uma perspectiva imparcial que nos ajuda a tomar decisões mais racionais.

Alguns psicólogos definiram essa capacidade de metacognição como “disposição de raciocínio”, entendendo-a como uma flexibilidade cognitiva para mudar de opinião, abrir-se a novas ideias e buscar novas realidades para além das ideias pré-concebidas. No nível do laboratório, descobriu-se que as pessoas que tomam as decisões mais racionais são justamente aquelas que estão mais abertas a todas as possibilidades, porque isso permite que elas não se prendam a pensamentos ou crenças relacionados ao passado.



No entanto, não devemos cair no erro de pensar que a racionalidade sempre nos leva a tomar a melhor decisão. Há ocasiões em que as decisões mais inteligentes são indicadas pelo instinto, por aquelas sensações viscerais que nem sempre podemos explicar, mas que nos dizem qual é o melhor caminho.

Ser inteligente não significa ser racional, mas ser capaz de reunir todas as informações e tomar a melhor decisão. Inteligência é a capacidade de resolver problemas, mas em muitos casos, para escapar de obstáculos é necessário ter um pensamento um pouco divergente, sair dos caminhos pré-determinados da lógica e ousar arriscar seguindo a intuição.


 

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