Perder alguém às vezes equivale a ficar preso em um sentimento constante de raiva, uma raiva que não passa. Não podemos aceitar o que aconteceu. A raiva é uma emoção comum no processo de luto.
Escrito e verificado pelo psicólogo GetPersonalGrowth.
Última atualização: 15 de novembro de 2021
A raiva no luto é uma fase completamente natural. No entanto, existem pessoas que ficam presas nela, que desabam emocionalmente e ficam presas no sentimento de raiva relacionado à perda. Não é fácil administrar esse emaranhado de emoções, em que a raiva e a incapacidade de entender o que aconteceu se combinam com o desespero.
William Shakespeare costumava dizer que chorar torna a dor menos profunda, mas quando você não consegue dar espaço para a saída emocional, ela se transforma em uma pedra que cai pesadamente nas profundezas de um bem chamado desespero. Dentre as fases do luto definidas por Elisabeth Kübler-Ross, é muito provável que a segunda, caracterizada pela raiva e frustração, seja a mais problemática.
Esta fase descreve o momento em que você se torna totalmente consciente da morte de seu ente querido, mas em vez de aceitá-la, você se rebela. A mente começa a procurar os culpados, e sentimentos de injustiça, ressentimento e raiva começam a criar raízes.
As emoções se transformam em uma espécie de vento furioso que sacode constantemente as roupas penduradas em uma corda, sacudindo-as, deformando-as, tentando arrancá-las da própria corda. Alguém gostaria de permanecer no controle, mas não é capaz. A raiva no luto pode se transformar em fúria e nos transformar em pessoas diferentes.
"A dor reprimida sufoca e queima por dentro, e ele é forçado a multiplicar suas forças."
-Ovídio-
Raiva no luto: como ela se manifesta?
A raiva no processo de luto surge como uma reação à perda. Não devemos esquecer que essa emoção é também um impulso instintivo que leva a reagir a estímulos que o cérebro interpreta como ameaças. O que é mais chocante do que perder uma pessoa importante? A marca da dor é tremenda e tal é a resposta.
Vivenciar essa realidade é completamente normal. Além disso, o estudo realizado pelo Dr. George A Bonanno, da Universidade de Columbia, indica que na realidade não existem enlutados “normativos”. Apesar das etapas estabelecidas pelo Dr. Kübler-Ross, cada pessoa processa e enfrenta o luto de uma forma totalmente pessoal.
Quando você não consegue lidar com a situação, por exemplo, você fala sobre luto atrasado ou congelado, uma perda não resolvida se arrasta por anos e, em muitos casos, leva à depressão. Vejamos, porém, como a raiva se manifesta no processo de luto.
A obsessão com o que aconteceu e as perguntas não respondidas
Diante de uma perda, é natural fazer perguntas. Uma das mais frequentes é aquela em que, como num gemido cheio de raiva, nos perguntamos por que aquela pessoa e não outra. Por que aconteceu com meu pai que ainda era tão jovem? Ele era tão bom e amava tanto a vida, por que ele foi embora?
Essas ideias se transformam em pontos fixos e obsessivos na mente da pessoa presa no luto. A obsessão com o que aconteceu, a busca por explicações e até por culpados é comum e alimenta a raiva.
Hipersensibilidade
A raiva no luto muitas vezes torna a pessoa hipersensível. De repente, qualquer estímulo inesperado, notícia ou acontecimento repentino a atormenta intensamente. Tudo é exageradamente negativo, qualquer coisa a envolve de forma descontrolada e até devastadora.
Mudanças de personalidade e caráter
É bom saber que a raiva tem um enorme poder transformador. Isso nos muda, nos torna diferentes e não gostamos de nós. Faz-nos perder a motivação, aquilo que antes éramos apaixonados deixa de ser interessante, a paciência e o interesse desaparecem, deixamos de nos relacionar com os outros. Da mesma forma, a empatia falha, porque o sofrimento nos força a focar apenas em nós mesmos.
Apatia, dor física, depressão leve
A raiva no luto também resulta em vários distúrbios psicossomáticos. Em tais situações, surgem dores de estômago, fadiga física e mental, dores de cabeça, insônia ou uma maior predisposição a sofrer de infecções. Por outro lado, também é comum apresentar sinais de depressão que, se não forem tratados, podem piorar com o tempo.
Como a raiva é tratada no processo de luto
Um dos maiores perigos de sentir raiva por muito tempo é que às vezes pode levar a adotar comportamentos tão perigosos quanto prejudiciais à saúde. Há quem recorra à bebida, ao jogo ou a qualquer comportamento que lhes permita “esquecer” a dor da perda. Estas são, sem dúvida, situações muito complexas.
Na presença desse tipo de realidade, é bom deixar claro que a terapia psicológica não é apenas recomendada, mas na verdade é a única maneira de recuperar o controle de sua vida e se permitir mudar de página. Nesse sentido, as estratégias mais utilizadas são as seguintes.
Raiva no luto: aspectos para trabalhar
- Avaliação preventiva do estado de saúde do sujeito. Antes de iniciar a terapia, é aconselhável fazer um exame médico para saber sobre o seu estado de saúde e a presença ou ausência de outras patologias.
- Também é necessário um forte compromisso por parte da pessoa que pretende seguir a terapia psicológica.
- Para trabalhar a raiva, é aconselhável recorrer à reestruturação cognitiva identificar pensamentos limitantes e irracionais. Estimulará a canalização e a liberação emocional, além de fornecer todos os recursos para acalmar o sofrimento emocional.
Deve-se notar que a terapia varia consideravelmente de acordo com as necessidades da pessoa. É um processo que leva tempo e a criação de uma aliança sólida entre o paciente e o psicólogo. No entanto, a taxa de sucesso é muito alta, tornando possível superar essa situação dolorosa.