A política tornou-se um campo no qual as emoções desempenham um papel fundamental. Embora o poder sempre tenha despertado grandes paixões, hoje seu protagonismo foi fortalecido pela sociedade do espetáculo.
Última atualização: 14 de julho de 2022
De acordo com a teoria grega clássica, a política tem duas fases: competitiva e arquitetônica.. Durante a fase competitiva, lutas de poder acontecem para ganhar algum controle. A arquitetura, por outro lado, é a fase em que os projetos e as ações aparecem uma vez que o poder é alcançado.
Como terreno privilegiado de emoções, a política está profundamente enraizada na fase competitiva. No mundo do poder, as ideias estão ligadas à razão, mas têm uma profunda raiz emocional. É na luta pelo poder que as emoções mais circulam no plano político.
Hoje, muitos políticos baseiam seus discursos em emoções. Eles são mais convincentes se usam mensagens de medo ou promessas sobre projetos para resolver problemas específicos. Da mesma forma, os eleitores querem propostas que possam ser soluções para suas dificuldades, mas também que transmitam paixão e entusiasmo.
"A política é a arte de impedir que as pessoas se envolvam no que é importante para elas."
-Marco Aurélio Almazán-
Comunicação
Cerca de 75% da comunicação interpessoal é não-verbal. A isso devemos a importância que na política é dada aos gestos, posturas corporais, gestão do espaço e todos os elementos que acompanham as palavras. A mímica fortalece a carga emocional e gera uma conexão com o candidato.
Os consultores de comunicação dos políticos se concentram em como transmitir uma imagem apoiada pelos sentidos. O que isto significa? O uso de estímulos sensoriais para gerar humores precisos nos eleitores.
Esse conceito nascido na publicidade é chamado de brand sense e serve para amplificar os valores de um candidato ou partido político. O potencial oferecido pelo som, paladar, visão, olfato ou tato afeta muito a percepção. Trata-se de integrar os cinco sentidos para criar pontes sensoriais e emocionais entre o candidato e seu eleitorado.
Política e emoções
Como poucas vezes na história, hoje em dia há uma forte incidência de propaganda em detrimento do debate ideológico. Política e entretenimento estão cada vez mais próximos; ideias e diversão.
Não é incomum que muitos políticos de hoje se comportem mais como estrelas pop do que como estadistas. Muitos deles não estão tentando transmitir um projeto ideológico, mas construir uma imagem sob medida para o que seu público quer ver e ouvir. Trata-se mais de marketing, em muitos casos, do que de ideias ou propostas.
O medo, hoje e sempre, tem um enorme poder de persuasão. É inoculado nos eleitores de forma sutil e contínua. Cada político escolhe um inimigo e joga toda a sua artilharia contra ele.
Tal inimigo pode ser o desempregado ou o imigrante, a esquerda, a direita ou qualquer outra coisa. A questão é construir um discurso em torno do propósito de conter uma ameaça. Em muitos casos, esta estratégia é um vencedor.
As novas contribuições
O sucesso do discurso político emocional deve-se, em parte, à contribuição de algumas ciências humanas e sociais. A psicologia, por exemplo, tem favorecido a relação entre a economia comportamental e as decisões econômicas tomadas pelos líderes de diferentes governos.
Os estudos de comunicação, particularmente aqueles com foco em publicidade, têm enfatizado a persuasão. A persuasão publicitária é baseada em escolhas emocionais e não racionais. E isso foi aplicado à política prestando muita atenção às emoções que cada candidato pode sentir.
Mas isso não é exatamente novo. Já no século IV a. C., Aristóteles falou em seu tratado Retórica de como as emoções desempenharam um papel central no debate político.
Ele alegou que o objetivo do debate era persuadir, através das emoções, ao invés de alcançar um processo de tomada de decisão fundamentado. Segundo ele, convencer e vencer eram mais importantes do que discutir.
Quase 25 séculos depois, a política faz sua a esfera emocional e combina a comunicação não verbal com os sentimentos para alcançar uma conexão com a população, que vai além do racional. Quem assiste aos discursos políticos espera que seus corações sejam tocados, e os candidatos já sabem disso.